João Paulo Cepa*
Desde a última década, o Brasil já discute mudanças decisivas para a educação. Duas últimas transformações apresentadas foram a elaboração da Base Nacional Comum Curricular e o Novo Ensino Médio (criado pela lei nº 13.415/2017). Essas duas políticas têm um papel importante de propor mudanças no formato e no conteúdo da oferta dos estudantes, em especial nos três últimos anos da Educação Básica.
Um dos pontos que motivou essas mudanças certamente foi a desconexão das escolas com a realidade dos jovens brasileiros, a pouca sinergia com os interesses das juventudes, com o mundo do trabalho e com a realidade na qual estão inseridos. A preocupação com o protagonismo juvenil e com seu projeto de vida nos coloca na posição em que os legisladores precisam ouvir e considerar a voz dos estudantes para pensar os próximos passos das políticas públicas educacionais.
Nesse sentido, vale trazer alguns resultados, publicados no dia 11 de agosto, numa importante iniciativa, encabeçada pela organização Todos pela Educação, em parceria com a Fundação Telefônica Vivo, o Instituto Natura e o Instituto Sonho, nesta pesquisa, intitulada Pesquisa de opinião com estudantes do Ensino Médio, as organizações ouviram a opinião com estudantes do Ensino Médio de escolas públicas de todo o Brasil. O objetivo foi compreender a percepção dos jovens sobre a sua escola e sobre a educação de forma geral. Alguns destaques importantes da pesquisa:
● Apesar da maioria dos estudantes avaliarem bem a sua escola (82%), quase a metade afirma que o seu direito de ter todas as aulas não é garantido. E 20% acham que não tem seus direitos respeitados;
● Muitos estudantes concordam com as mudanças trazidas pelo Ensino Médio: 98% deles gostaria de ter uma formação para o mercado de trabalho e 92% entende que é importante ter opções para aprofundar seus estudos. E apenas 1% diz não ser capaz de fazer a escolha por uma área de aprofundamento do ensino;
● Em geral os estudantes de Ensino Médio estão satisfeitos com a educação em tempo integral oferecida, e a maioria gostaria de estudar numa escola com disciplinas eletivas, clubes de protagonismo e projeto de vida;
● Metade dos estudantes concordam que os seus professores são valorizados. 79% concordam que tiveram professores que ajudou a construir seu futuro;
● O risco de evasão ainda ronda o Ensino Médio: 48% dizem que pensaram em parar de frequentar a escola para trabalhar e 17% por conta de estresse ou cansaço;
● 31% dos estudantes de Ensino Médio dizem que trabalham fora de casa, seja para ter independência financeira, seja para ajudar em casa;
● Praticamente todos os jovens acreditam que a tecnologia pode melhorar a qualidade da educação. No entanto, um pouco mais da metade (57%) dizem ter acesso a internet nas escolas;
● Por último, o Ensino Superior ainda é um sonho para a juventude brasileira: 65% dos estudantes pretendem cursar uma faculdade após concluírem o Ensino Médio.
Os dados deste estudo merecem uma análise detalhada por parte, especialmente do próximo ciclo de gestão federal e estadual a partir de 2023. Compreender os anseios e principalmente, a opinião dos jovens sobre as escolas que frequentam é um importante indicador sobre o quanto as mudanças implementadas na educação nos últimos anos atendem de fato as suas necessidades. Neste sentido, será um ótimo termômetro para o aprimoramento dessas políticas nos próximos anos.
João Paulo Cepa
Consultor e Especialista educacional, ex-secretário de Educação de Caruaru-PE
@joaopaulo_cepa (instagram)