Se você é negro, tem mais chances de morrer do que uma pessoa branca. Ter a cútis escura pode ser uma sentença de morte, e foi isso que ocorreu no Estados Unidos da América (EUA), em Minneapolis. Um homem negro, anônimo, acusado de fazer uma compra com uma nota falsa de 20 dólares, desarmado, algemado, jogado no chão, foi julgado e sentenciado à morte pela polícia. Em sua defesa, o homem jogado no chão, com o seu pescoço esmagado por um policial, gritando, gemendo de dor, dizia: “POR FAVOR, EU NÃO CONSIGO RESPIRAR”. Antes de morrer, o homem chamava pela sua mãe, clamava ele “MAMMA, MAMMA”. O homem grande e feito sentiu a falta de sua mãe. Essa falta também foi sentida pela criança pobre de 5 anos, filho de uma empregada doméstica, que ao sair para passear com o cachorro da madame, deixou seu precioso e único filho com a patroa, a criança sentido falta da mãe morreu à sua procura.
A morte sádica do americano negro George Floyd gerou protestos por todo o mundo, fazendo renascer a discussão pública acerca do racismo estrutural presente nos EUA e em nossa sociedade. E no Brasil, a morte estúpida de uma criança negra, descuidada pela patroa, filho de uma empregada doméstica, lança luz acerca do que é ser negro e pobre no Brasil desigual, que trata do tema preconceito sem maturidade e com profunda hipocrisia negacionista do preconceito racial enraizado em nossa sociedade, fruto de uma construção histórica, antropológica e social.
Ser negro, em algumas partes do mundo, representa, na corrida da vida, sair sempre atrás, ter oportunidades diminuídas, e ser negro no Brasil é sempre ser suspeito, excluído, discriminado. No Brasil nem todo pobre é negro, mas a maioria dos pobres são negros. 78%, estima-se. No Nordeste, o número é de 79,7%.
Ao negro foi dado o local de ser invisível e sem fala, em uma política de silenciamento, onde as questões raciais brasileiras não são debatidas com verdade e de verdade nos grandes palcos sociais. A população afrodescendente brasileira é composta de 56,10%, ou seja, a maioria, mas os negros ganham 1,2 mil a menos que brancos em média no Brasil, ou 31% a menos do que os brancos. Empregos como Engenheiros da computação, mecânico, argonáutico, Professores de Medicina, Odontologia e Direito e Universitários em geral são ocupados em média por 90% de brancos e 10% de negros e pardos.
Em grandes escritórios de advocacia os negros são menos de 1%. Enquanto os cargos de agente de segurança, operadores de telemarketing, serviços domésticos, construção civil são ocupados, majoritariamente, por pessoas negras. Alguns, consciente ou inconscientemente, a fim de calarem a boca das vozes que se levantam em busca de igualdade racial no Brasil, mesmo diante desses dados, utilizam do argumento falacioso de que o negro se vitimiza. Existe uma lógica invertida no raciocínio de reclamar. Se alguém fala de suas dores, problemas, gera, rapidamente, empatia. Se feito isso por redes sociais, o apoio vem por meio de hashtags. Essa lógica não funciona para os povos negros, que na visão turva ou perversa de alguns deve engolir suas dores. A política de silenciamento passa diretamente pelo argumento de dizer em outras palavras que você se “vitimiza”, ou de que “somos um só povo”, não existe essa de negros e brancos. Os dados do Brasil real mostram o contrário, afinal, quem tem mais oportunidades?
Nossa sociedade deve aprender com as trágicas mortes de GEORGE FLOYD e MIGUEL OTÁVIO SANTANA DA SILVA. Temos um saldo devedor racista, que deve ser, a todo custo, extirpado de nossa vida, sociedade e mundo. Não dá para conviver passivamente com o racismo, não podemos fazer vista grossa, não se pode debochar das dores dos outros. CHEGA DE RACISMO, CHEGA DE INDIFERENÇA!
Obs.: escrevo esse pequeno e humilde artigo em memória dessas duas pessoas GEORGE FLOYD e MIGUEL OTÁVIO SANTANA DA SILVA. Que Deus os acolha no seu reino de amor e que conceda o conforto necessário aos que ficaram.
“Nunca estive na África, mas a África sempre esteve em mim”.